Martin Heidegger
A palavra grega philosophia remonta a palavra philosóphos.Originariamente esta palavra é um adjetivo como philárggros,o que ama a prata,como philótimos, o que ama a honra, a palavra philósophos foi presumivelmente criada por Heráclito.Isto quer dizer que para Heráclito ainda não existe a philosophia. Um anér philósophos não é um homem "filosófico".o Adjetivo grego philósophos significa algo absolutamente diferente filosófico, philoosofique. Um anér philósophos é aquele, hòz philei tò sophón, que ama a sophón; philein significa aqui, no sentido de Heraclito: homologein, falar assim como o Lógos fala, quer dizer, corresponder ao Lógos. Este corresponder está em acordo com o sophón.Acordo é harmonia. O elemento especifico de philein amor, pensado por Heráclito é a harmonía que se revela na recíproca integração de dois seres, nos laços que os unem originariamente numa disponibilidade de um para com o outro.
O anér philósophos ama o sophón. O que esta palavra diz para Heráclito é difícil traduzir, Podemos, porém ,elucidá-lo a partir da própria explicação de Heráclito.De acordo com isto tò sophón significa: Hèn Pánta "Um (é) Tudo" . Tudo que dizer aqui: Pánta ta ónta ,a totalidade, o todo do ente. Hén, o Um, designa : o que é o um, o único, o que tudo une. Unido é, entretanto, todo ente no ser.O sophón dignifica: todo ente é no ser.Dito mais precisamente, o ente é o ser. Nesta locução o "é" traz uma carga transitiva e designa algo assim como "recolhe".O ser recolhe o ente pelo fato de que o é o ente.O ser é recolhimento -Lógos
Todo ente é no ser .Ouvir tal coisa soa de modo trivial em nosso ouvido, quando não de modo ofensivo.Pois, pelo fato de que o ente ter seu lugar no ser ninguém precisa preocupar-se.Todo mundo sabe: ENTE É AQUILO QUE É . Qual a outra solução para o ente a não ser esta: ser? E Entretanto: precisamente isto, que o ente permaneça recolhido no ser, que no fenômeno do ser se manifesta o ente; isto jogava os gregos no espanto, e a eles primeiro unicamente, no espanto.Ente no ser: isto se tornou para os gregos o mais espantoso
Entretanto, mesmo os gregos tiveram que salvar e proteger o poder do espanto deste mais espantoso - contra o ataque do entendimento sofista , que dispunha logo de uma explicação, compreensível para qualquer um, para tudo e a difundia.A salvação do mais espantoso - ente no ser- se deu pelo fato de que alguns se fizeram a caminho de sua direção, quer dizer, do sophón. Estes tornaram-se por isto aqueles que tendiam para o sophón e que através de sua própria aspiração despertavam nos outros homens o anseio pelo sophón e o mantinham aceso o philein tò sophón, aquele acordo com o sophón de que falávamos acima, a harmonia, transformou-se em órecsis, num aspirar pelo sophón.O sophón - o ente no ser - é agora propriamente procurado.Pelo fato de o philein não ser mais um acordo originário como o sophón, mas um singular aspirar pelo sophón, o philein tò sophón torna-se "philosophia".Esta aspiração é determinada pelo EROS.
Uma tal procura que aspira pelo sophón, pelo hén pánta, pelo ente no ser se articula agora numa questão: o que é o ente enquanto ente? Somente agora o pensamento torna-se "filosofia" Heráclito e Parmênides ainda não eram "filósofos".Por que não? Por que eram os maiores pensadores."Maiores" não designa aqui o calculo de um rendimento, porém , aponta para outra dimensão do pensamento.Heráclito e Parmênides eram "maiores" no sentido de que ainda se situavam no acordo com o Lógos, que dizer com Hén Pánta. O passo para a" filosofia", preparado pela sofística, só foi realizado por Sócrates e Platão. Aristóteles, então, quase dois séculos depois de Heráclito, caracterizou este passo com a seguinte afirmação: kai dè kai tò pálai te kai nyn kai aei zotóumenon kai aei aporoúmenon, ti tò ón? (Met. Z 1, 1028b 2s).Na tradução isso soa: "Assim,pois, é aquilo para o qual a (filosofia) está em marcha já desde os primórdios, e também agora e para sempre e para o qual sempre de novo não encontra acesso (e que é por isso questionado): o que é o ente?" (ti tò on)."
A filosofia procura o ente enquanto ente.A filosofia está a caminho do ser do ente, quer dizer, a caminho do ente sob o ponto de vista do ser.Aristóteles elucida isto, e acrescenta uma explicação ao ti tò ón, o que é o ente?. Na passagem acima citada: toutó esti tis he ousia?. Traduzido:" isto(a saber ti tò ón)significa: que é a entidade do ente?" O ser do ente consiste na entidade.Esta porém - a ousia- é determinada por Platão como idéia, por Aristóteles como enérgeia .
De momento ainda não é necessário analisar mais exatamente o que Aristóteles entende por enérgeia e em que medida a ousia se deixa determinar pela enérgeia. O importante por ora é que prestemos atenção como Aristóteles delimita a filosofia em sua essência. No primeiro livro da "Metafísica" (Met.A2 982 b 9s) o filósofo diz o seguinte: a Filosofia é epistéme tõn prõton archõn kai aitiõn theoretiké. Traduz-se facilmente epistéme por "ciência" .Isto induz ao erro, porque, com demasiada facilidade, permitimos que se insinue a moderna concepção de "ciência".A tradução de epistéme por "ciência" é também então enganosa quando entendemos "ciência" no sentido filosófico que tinham em mente Fichte, Schelling e Hegel.A Palavra epistéme deriva do particípio epistámenos.Assim se chama o homem enquanto competente e hábil(competência no sentido de apparternance).A filosofia é episteme tis , uma espécie de competência, theoretiké, que é capaz de teorein, quer dizer, olhar para algo e envolver e fixar com o olhar aquilo que perscruta, é por isso que a filosofia é epstemé theoretiké. Mas o que é isso que ela perscruta?


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